terça-feira, 31 de março de 2009

Saneamento ambiental: desafio missionário urbano

Flávio Conrado*
Marcus Vinícius Matos**

Nos últimos anos, popularizou-se bastante o conceito de “desenvolvimento sustentável”como paradigma emergente que nos livrará da crise civilizacional atual. Normalmente, o relacionamos à necessidade de cuidar do meio ambiente. Entretanto, é importante compreendê-lo também em termos sociais e econômicos, como foi afirmado pela Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento -- a ECO-92 -- e reafirmado pela Declaração da Cúpula Mundial de Joanesburgo, em 2002.

O “saneamento” é um dos desafios que se relacionam com a noção holística de sustentabilidade e que refletem processos nos quais a combinação de ausência de políticas públicas e altos índices de desigualdade social produz impactos negativos sobre a saúde e o meio ambiente. Renomeado “saneamento ambiental”, o desafio se refere ao acesso à água encanada e potável, ao tratamento de esgoto sanitário, à coleta de lixo e ao tratamento de resíduos em aterros sanitários.

A situação do saneamento ambiental no Brasil é caótica e traz sérios riscos à população e à preservação do meio ambiente. Dados da ONU, do IBGE e da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento alertam que, nas regiões urbanas do país, mais de 93 milhões de pessoas não têm esgoto tratado pelas redes públicas, cerca de 83 milhões não têm acesso a rede de esgotos sanitários adequados e 36% dos distritos abastecidos recebem água sem tratamento. Dados como esses deveriam nos estimular a considerar o saneamento ambiental como um dos principais desafios missionários nas cidades brasileiras.

Em resposta ao chamado bíblico de orar e procurar o bem-estar (“shalom”) da cidade (Jr 29.7), as igrejas poderiam começar a agir de forma prática de várias maneiras: 1) incluir o tema nos encontros de oração e nos currículos de suas escolas bíblicas; 2) criar equipes missionárias para identificar no bairro os domicílios não atendidos pelos serviços públicos de água, esgoto, lixo e tratamento de resíduos; 3) promover assembleias nas quais os gestores públicos sejam convidados a explicar a ausência de equidade e justiça; 4) colaborar com mutirões de limpeza de rios e lagoas; 5) implementar um programa de educação ambiental para conscientizar a população sobre o uso responsável da água e a importância da coleta seletiva.

A Rede FALE (www.fale.org.br) elegeu o saneamento ambiental como tema prioritário, nos últimos dois anos, para mobilizar a juventude evangélica a orar e atuar nos níveis local, estadual e nacional. Em 2009, a rede se mobiliza para transformar a realidade da comunidade de Grota Criminosa, na cidade de Marabá, PA. No cartão que promove a campanha, lê-se: “No município de Marabá, os serviços de saneamento não chegam à maioria das casas. Os rios são diariamente poluídos com lixo e esgoto. A população que vive em torno da Grota Criminosa é uma das que mais sofrem. Várias obras já foram realizadas no local. Contudo, a maior parte delas é feita de forma desordenada, sem consultar a população e sem compromisso com a restauração do meio ambiente. É preciso curar a Grota.”

É preciso curar as Grotas do Brasil. Já é tempo de as igrejas evangélicas despertarem para mais esse desafio missionário urbano.


* Flávio Conrado é pesquisador do Instituto Superior de Estudos da Religião, membro da Rede Fale e pós-doutorando na Universidade de Montreal, no Canadá.

** Marcus Vinícius Matos é secretário-executivo da Rede Fale e mestrando em teorias jurídicas contemporâneas na UFRJ.


(FONTE: Revista Ultimato - também disponível no site)

quinta-feira, 19 de março de 2009

Estudantes e profissionais discutem políticas públicas e participação evangélica

FALE promove oficina no Encontro Missionário Estudantil e Profissional (EMEP), em Viçosa

A rede Fale esteve no Encontro Missionário Estudantil e Profissional – realizado em Viçosa, nos dias 21 e 24 de fevereiro.

Nesse evento, realizamos uma oficina sobre “Políticas Públicas e Juventude Evangélica”, ministrada pelo Secretário de Mobilização da Rede Fale, Caio Marçal. Além de levantar todo o histórico da participação evangélica em conselhos, falou “que existe uma grande demanda sobre os problemas da vida do jovem brasileiro, que deve ser enfrentada por nós com seriedade e com sentido de missão” e que “a juventude evangélica não pode reduzir sua participação à organização eclesial; é preciso servir e amar cada brasileira e brasileiro, reconhecendo neles a imagem de Deus”.

Marçal, que foi conselheiro no Conselho Nacional de Juventude – CONJUVE, durante o ano de 2008, falou um pouco da experiência da Rede FALE e listou alguns desafios para a juventude evangélica na discussão sobre políticas públicas nos próximos anos:

1. Sair da redoma - Mobilizar mais organizações e igrejas evangélicas;
2. Ocupar espaço nos conselhos municipais e estaduais;
3. Estar aberta ao diálogo com outras juventudes e entender suas demandas;
4. Fugir da tentação de pensar políticas públicas para juventude olhando para o próprio umbigo. “Temos que nos dirigir pelo amor que sentimos pela juventude, independente de qualquer diferença”.

Por fim, manifestou o desejo de que ”A igreja ocupe as praças, as universidades, o CONJUVE, as favelas e o todo o mundo, sinalizando a verdade com os braços prontos para servir e com os corações abertos pra amar”. (Por Caio César Marçal)

sexta-feira, 13 de março de 2009

Organizações do CONJUVE discutem juventude no Mercosul

Durante a última reunião do Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), nos dias 9, 10 e 11 de março, membros de organizações de juventude que representam a sociedade civil brasileira no âmbito do Mercosul discutiram os próximos passos para a sua atuação na REJ – Reunião Especializada de Juventude do Mercosul. Em novembro de 2009, o conselho, junto com a Secretaria Nacional de Juventude, elegeu três entidades para participar da REJ, que se insere na Cúpula Social do Mercosul.

Como titulares, foram indicados o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), Central Única de Trabalhadores e União Nacional dos Estudantes (UNE). Rede FALE, Força Sindical e União Brasileira de Mulheres (UBM), foram eleitos como suplentes, respectivamente. A REJ, nos moldes do CONJUVE, passou a ser composta por entidades da sociedade civil e dos gestores nacionais das Políticas Públicas de Juventude dos governos membros do Mercosul.

Desde a última reunião da REJ, em dezembro do ano passado, em Salvador, essas entidades procuram formas de ampliar a participação da sociedade civil brasileira no Mercosul. Márvia, da União Nacional dos Estudantes (UNE), fez uma avaliação deste processo. “Na reunião de salvador, a Sociedade civil ficou muito a mercê do governo. Precisamos nos articular, contribuir mais e aprofundar os temas discutidos para ter uma postura mais ativa”.

Com este objetivo, foi proposta a realização de um Grupo de Trabalho que reunirá representes de várias organizações de juventude, no dia 1º de abril, em São Paulo. “Queremos marcar uma reunião de trabalho para definir nossas metas” – disse Fábio, da Escola da Gente. Para Marina, do IBASE, “o objetivo é que possamos pensar como mobilizar a sociedade civil brasileira e de outros países para este espaço”.

Carlos Odas, representante do governo Brasileiro na REJ, concordou com a avaliação dos presentes, e reiterou a importância de fortalecer a participação das organizações de juventude da sociedade civil brasileira. “Nós precisamos da sociedade civil para construir as pautas de juventude no Mercosul, para propor uma agenda concreta. O GT é um espaço muito mais da sociedade civil do que do governo. Os governos já dialogam entre si. Quem pode utilizar o GT como ferramenta é a sociedade civil do Mercosul. Precisamos consultar o Paraguai para decidir os próximos passos.”

A cada ano um país exerce a presidência “pro tempore” da REJ. No ano passado, o Paraguai sucedeu o Brasil na presidência, e ficou responsável pela organização da próxima reunião.

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FALE, ABUB e JOCUM participam da 16ª reunião do Conselho

Nos dias 9, 10 e 11 de março, o Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) realizou sua primeira reunião do ano. Na pauta, além da discussão sobre o Plano Nacional de Juventude, estava prevista a realização de eleição do novo presidente. O CONJUVE é formado por representantes de organizações de juventude e por membros dos ministérios e secretarias do governo que atuam na promoção de Políticas Públicas de Juventude.

Pela primeira vez desde sua fundação, os dois candidatos à presidência do CONJUVE eram representantes da sociedade civil. Com propostas semelhantes, Valério da Costa Benfica, presidente do Centro Popular de Cultura (CPC) e David Barros Araújo, do Instituto de Juventude Contemporânea (IJC), reuniram-se na véspera da eleição com as outras organizações da sociedade civil para um debate.

As organizações de juventude evangélica com representação no CONJUVE estavam presentes e participaram do processo eleitoral. Votaram Sarah Nigri, pela Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB); Geinho, pela Jovens Com Missão (JOCUM) e Roni Cavalcante, pela Rede FALE. Segundo Geninho, da JOCUM, “a eleição de um membro da sociedade civil para a presidência do CONJUVE é um passo histórico no sentido do controle democrático e popular das Políticas Públicas de Juventude no país”.

Ao final da votação, David Araújo foi eleito com 38 votos. Para ele, “a sociedade civil assume um papel de protagonista no conselho, principalmente no diálogo externo. A grande mudança é tomar a frente neste espaço privilegiado de informação e discussão de Políticas Públicas de Juventude que é o CONJUVE”.

David falou sobre os planos para o mandato. “Minha grande expectativa é mobilizar a juventude para aprovar o Plano Nacional de Juventude e construir a sua própria plataforma de direitos para apresentar ao Poder Público. O conselho precisa se fortalecer ainda mais para sermos ouvidos pelo governo e pelo parlamento no que diz respeito a construção dos marcos legais para a Política Nacional de Juventude”.

Além do novo presidente, a mesa diretora do CONJUVE é composta por Danilo Moreira (Vice-presidente) e Zé Eduardo (Secretário Executivo).

(Por Marcus Vinicius Matos)

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