terça-feira, 29 de setembro de 2015

Seminário debate relação entre discursos religiosos e violência



Por Clara Cavalcanti
“Quero entender como posso abrir espaço, na minha comunidade de fé, para o diálogo sobre as questões de gênero, principalmente a respeito da violência doméstica. Percebo que existem poucas oportunidades para o debate e, também, certa dificuldade das próprias mulheres em reconhecer o lugar de submissão no qual são colocadas”. Este foi o motivo que levou o estudante de Ciências Sociais, Marco Aurélio Neves, 18 anos, a participar do “I Seminário Discurso Religioso e Violência Contra a Mulher”, uma iniciativa da Diaconia e do Coletivo Vozes Marias para promover a reflexão sobre a influência dos discursos religiosos na construção de práticas sociais de violência contra o sexo feminino. 

O evento, realizado na última quinta-feira (24), reuniu cerca de 50 participantes no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Durante a sua apresentação, o professor da PUC Minas, Adilson Schultz, destacou a importância de uma visão crítica sobre os textos bíblicos. “A Bíblia foi escrita para que a vida seja plena. Ao ler uma passagem, devemos nos perguntar se ela, de fato, garante vida plena aos envolvidos, se ela é justa. Também precisamos desmistificar aquela história de que religião não se discute. A reflexão faz falta nas nossas igrejas”, disse.

Na mesma linha, a professora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Lilian Guarani-Kaiowá Lira, destacou a necessidade não só das congregações, mas da própria sociedade em geral, ampliar os espaços de debate e reflexão sobre a equidade de gênero. “É preciso romper o silêncio e admitir que a violência contra a mulher existe, também, no espaço religioso. Temos que envolver as comunidades nesse debate e trabalhar a temática, desde cedo, com as crianças, para que possam entender e respeitar a diversidade da nossa sociedade”, afirmou.

A professora da Fundaj, Denise Botelho, apresentou o papel da mulher nas religiões de matriz africanas, ocupando lugar de destaque no sacerdócio, e destacou a importância de se “descolonizar práticas culturais hegemônicas, racistas e machistas”. “É preciso bom senso e educação para que a oportunidade do diálogo não seja, de cara, encerrada. Podemos achar brechas para discutir as questões de gênero em qualquer religião. A criação de seminários, rodas de conversas e outros espaços também são formas para repensar e discutir sobre algo que está posto”, observou.

O “I Seminário Discurso Religioso e Violência Contra a Mulher” contou com o apoio da Igreja da Suécia, Rede Fale Recife, UFPE, Núcleo de Discurso, Identidade e Pluralismo Religioso, Centro de Educação e Fundaj. 

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Publicado originalmente em http://www.diaconia.org.br/novosite/midia/int.php?id=953

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