sábado, 8 de março de 2014

Narrativa insustentável?


(ISAAC PALMA)*

Destituídas de si, quem pode (quem a não ser o homem?) narrar a sua sorte? Caladas, mudas, incomunicáveis, a incompatível natureza servil, o seu nascer já subjugado, o julgamento: CULPADA.

O reflexo da narrativa do homem que povoa parte do mundo com a mais sagrada das instituições o Deus homem, não só criado a sua imagem e semelhança, mas que colabora com o estado e a ordem das coisas. Ai de nós, que somos homens herdeiros de um mundo em decomposição, que nos refundamos, e ainda nos escondemos sob as verdades que nos passaram. Ousamos ainda criar mecanismos para a nossa absolvição, nós que somos os verdadeiros culpados, de manter ainda os nossos benefícios.

Calamos suas vozes múltiplas, reforçamos ainda que imperceptivelmente toda a narrativa que construímos. Desconstruir! Eis a rebeldia inicial. Eis o pacto feminino com o sagrado que as vezes profana suas nem tão santas mãos.

(Fonte da imagem: Geledes )
Não, as mulheres não permaneceram caladas. Nem sempre aceitaram ser subjugadas. Coube a nós (homens) contar a história e repassá-la de modo que as torne IMPERCEPTÍVEIS. Ai de nós que não percebemos, e que ainda queremos ser protagonistas de suas (in)submissas histórias, não percebemos que a mulher (não um ser mulher universal, mas suas múltiplas possibilidades de ser) não nasceu para cuidar de casa, ainda que isso as ensinem desde sempre, desde suas brincadeiras. Mas nasceram sobretudo pra subverter a ordem das coisas, essa ordem insustentavelmente machista. 


*Isaac é falante do Rio de Janeiro e estuda Ciências Sociais na UFF.


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