segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

NATAL, NATALIDADE E MEMÓRIA

por * Ronilso Pacheco

"Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação, choro e grande pranto; era Raquel chorando os seus filhos e não querendo ser consolada, porque já não existiam".
Mateus 2: 18


A alegria da comemoração do nascimento do Filho de Deus entre os homens não deveria ser desprovida também da memória do seu contexto. O menino Jesus foi, sobretudo, um sobrevivente. Sobreviveu a uma perseguição pessoal do governante que, dono da legitimidade do uso da violência, põe o estado a serviço da execução de todas as crianças que tivessem entre 0 e 2 anos; foi refugiado em terra estranha com seus pais; o menino Jesus já nasce marcado para morrer.

Nessa história Jesus se identifica com tantas crianças cuja natalidade beira o risco. O risco da falta de segurança, cuidado e proteção; o risco de estar desprovido dos direitos a que tem direito e das oportunidades que lhes pavimentam caminhos; o risco da morte violenta, seja pela agressão doméstica, seja pela vulnerabilidade nos territórios onde a paz não é garantida; o risco do abandono, sobretudo do estado que lhe vira as costas; risco do estado, e de uma parcela considerável da sociedade, que a enxerga como um inimigo em potencial (dependendo da música que ele queira ouvir, da cor de sua pele e de onde ele poderá morar).

Jesus não simplesmente nasce, seu nascimento também evidencia uma negligência, uma desumanidade, um mundo classista, violento e arriscado. Pensemos nisso também.



*Ronilso é de São Gonçalo (RJ), trabalha no Viva Rio e é membro do FALE-RJ

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

(…) Façais vós também!

           

Em um lindo dia de sol na segunda-feira, fui à universidade, atualmente vou pouco lá, falta entregar somente monografia. Naquele dia não poderia deixar de ir, era o inicio das aulas daquele semestre, meu ultimo semestre como aluno de graduação de história da UFF, e inusitadamente meu aniversário.

Cheguei à querida cidade de Niterói e decidi-me passar por uma praça, o caminho mais curto, e teoricamente mais perigoso, -“só encontramos no medo aquilo que deixamos nele”. Em um dia de sol, com policiamento a vista, compondo um senário normal passei pelo lugar antes temido. Nada me aconteceu.

Não aconteceu nada comigo... Não posso dizer o mesmo de um jovem preto, aparentemente em situação de rua, que recebia uma “dura” agressiva da polícia. A cena era dantesca, o jovem preto dormia no chão coberto por alguns trapos, abordado com um chute, logo teve de se levantar ainda mambembe, sendo em seguida puxado pela gola da camisa e escorado na parece. - O que o PM queria? Por quê ser agressivo daquele jeito? Estaria ele procurando drogas? Mesmo se fosse isso, era necessário agir assim? Faço alguma coisa ou fico aqui e finjo que não é comigo? O que eu tão pequeno poderia fazer? Justo no meu aniversário? Será que vai ter... tinta pra pintar os calouros?...
Passei, e quis esquecer! Não consegui!

Principalmente porque sei que a maioria dos jovens, sobretudo pretos e pardos são os que mais morrer no nosso país, até a Dilma assume isso[1], e se abordados nas ruas tem ido cada vez mais para a cadeia, as vezes sem terem feito nada[2]. E se é menor de idade, a mídia e parte da população que parece não querer se informar, quer colocar na cadeia também[3].   

Talvez porque não conheçam a realidade do sistema socioeducativo, mas eu também conheço, já fui a uma unidade[4]. Se pelo menos soubéssemos todo que quase 90% dos adolescentes em conflito com a lei não completou o ensino fundamental, um forte indício de que os atos infracionais desse grupo estão diretamente ligados à deficiência na escolarização. Se pelo menos soubéssemos que nós jovens somos mais vítimas do que algozes uma vez que de 1998 a 2008, o número de adolescentes e jovens assassinados no Brasil cresceu quase 20%[5], e imagine você sendo esses jovens pretos e pardos moradores de periferia, como eu e o rapaz que levava uma dura do policial, a chance de ser assassinado é 4 vezes maior[6]. 

Mulheres e negros são 60% da população que está desempregada por mais de um ano[7]. Que curiosamente é a mesma porcentagem de pretos que compõem o total de pessoas que estão no sistema carcerário hoje.

Muita informação? Pois isso faz constatar uma coisa, Alguma coisa está muito errada[8]!
Voltando-nos por alguns momentos à figura de Cristo e suas palavras, nos perguntamos: como Ele lidaria com essa realidade cruenta? Abismados poderíamos constatar que ele já se manifestara nesse sentido e levantou bandeiras totalmente atuais.
           
A opção de Jesus foi sempre ao lado do pobre, o momento mais obvio dessa posição é quando declara que o primeiro bem-aventurado é o pobre (Lc.6;20), foi contra as desigualdades sociais e de gênero assim como as violências praticadas pelos homens (Lc.10; 30-37 e em Jo.8;5-7), e levantou-se frente a tentativa de dominação e aniquilação do diferente e ou do descrente em suas palavras, tentativa essa de seus próprios discípulos (Lc.9;51 à 56). O Jesus que como homem completamente falho, frágil e impotente como eu me sinto diante da “dura” do policial, denuncia veementemente o racismo e o sexismo em nossas estruturas sociais (Jo.4;27) e a violência do Estado (Mc.10;42-43) que não é justo e oprime, sobretudo o pobre como no exemplo acima[9]. É necessário lembrar o que João nos afirma: “Aquele que afirma que permanece Nele, deve andar como ele andou”(1Jo.2;6).
Nosso caminho missionário
Unindo as palavra e atitudes de Jesus a o cotidiano social brasileiro, a Rede Fale Rio de Janeiro adotou, desde outubro de 2013, a campanha Jovens demais pra morrer - Fale contra o extermínio da juventude, que aborda justamente a questão da mortalidade da juventude, em especial dos jovens pobres e negros do Rio de Janeiro.
A campanha começou com vários debates sobre redução da maioridade penal, tema que se mostrou também muito importante e levou Rede FALE e oMonitoramento Jovem de Políticas Públicas (MJPOP) a lançarem a campanha nacional “Fale contra a redução da maioridade penal”.  Esta recebeu adesão de líderes evangélicos presentes no Encontro da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS) e objetiva colocar em pauta a defesa doEstatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

 A caminhada pela frente
Desde antes do ocorrido com o jovem em Niterói eu já me inteirava sobre o assunto, mas quando o tema deixa de ser teoria para se materializar na nossa frente, é o momento de fazer algo. Por isso, conclamo os amigos de missão estudantil para se sensibilizarem, agirem e participarem da campanha.
 Você pode atuar:

  • participando das reuniões dos grupos locais da Rede FALE;
  • participando de grupos e ações que lutem contra a mortalidade da juventude, negação de direitos, contra a redução da maioridade penal;
  • orando para que a justiça de Deus corra como água pelo Brasil;


Partindo dessa reflexão num sentido mais ampliado, unindo cotidiano social brasileiro e palavra/atitudes de Jesus, a Rede Fale do Rio de Janeiro adotou a campanha que se ocupa de uma questão seríssima e extremamente complexa: a enorme mortandade da juventude, dentre os quais encontramos mais pobres e negros, no Rio de janeiro com a campanha intitulada “JOVENS DE MAIS PARA MORRER”, iniciada com vários debates sobre redução da maioridade penal, que rapidamente foi alçada à uma campanha no Brasil inteiro.

Desde antes do ocorrido com o jovem em Niterói já me inteirava do assunto mas quando o tema deixa de ser tema, teoria, dados etc para então se materializar na nossa frente, é o momento de fazer algo. Nesse sentido, conclamo meus queridos amigos de missão estudantil para se sensibilizar, ficarem atentos ao tema, agir e nos ajudar na campanha. Você pode atuar: se unindo a nós onde hajam reuniões de grupos locais do Fale e focar em ações que lutem contra essa mortalidade ou negação de direitos à juventude em maioria pobre e preta mais próxima de você, mas também pode assinar nosso cartão  e unir-se a outros coletivos que lidem com esse ou outros tantos temas tão urgentes.

Destarte, é muito agradável e nos parece pertinente relembrar a figura do Cristo todo-poderoso mas pobre, o humilde que revela-nos como devemos agir na vida:
Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes”(Jo.13.1-5 e 12-17, grifo nosso).

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Diego Ferreira é estudante de História na Universidade Federal Fluminense (UFF), membro da ABU Niterói e do Fale RJ 

[5]   Mapa da violência 2011 : os jovens no Brasil /Julio Jacobo Waiselfisz. -- são paulo Instituto sangari ; Brasília, dF : Ministério da Justiça, 2011. 
[6]   Homicídios na adolescência no Brasil: IHA 2008 / organizadores: Doriam Luis Borges de Melo, Ignácio Cano.– Rio de Janeiro: Observatório de Favelas, 2011.  
[8]   Citação de Brennan Menning em O evangelho Maltrapilhono, qual o primeiro capítulo intitula-se: Alguma coisa está muito errada: “—Alguma coisa está muito errada — disse o auxiliar em tom de concordância. Dobrando-se aos poderes deste mundo, a mente deformou o evangelho da graça em cativeiro religioso e distorceu a imagem de Deus à forma de um guarda-livros eterno e cabeça-dura. A comunidade cristã lembra uma bolsa de obras de Wall Street, na qual a elite é honrada e os comuns ignorados. O amor é reprimido, a liberdade acorrentada e o cinto de segurança da justiça-própria devidamente apertado. A igreja institucional tornou-se alguém que inflige feridas nos que curam, em vez de ser alguém que cura os feridos. Dito sem rodeios: a igreja evangélica dos nossos dias aceita a graça na teoria, mas nega-a na prática.”. Manning, Brennan O Evangelho maltrapilho / Brennan Manning; traduzido por Paulo Purim.— São Paulo: Mundo Cristão, 2005 p.15.
[9]   Reflexão feita pelo amigo seminarista Ronilso Pacheco.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Boletim de Oração da Rede FALE - Outubro e Novembro de 2013







Prezados irmãos e irmãs da Rede FALE,
Saudações Cristãs! 

Segue o novo Boletim de Oração da Rede FALE. Caso você queira também baixar um link em PDF, clique aqui!

Nele você encontrará um texto devocional, pedidos de intercessão sobre nossas campanhas e ações de nossos grupos locais.
Não deixe de orar conosco e de mobilizar outros irmãos para interceder em favor da promoção do Reino de Deus e Sua Justiça!

Coordenação de Oração e Liturgia da Rede FALE 



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A Missão da Igreja ante a Corrupção

“Não pervertam a justiça nem mostrem parcialidade. Não aceitem suborno, pois o suborno cega até os sábios e prejudica a causa dos justos.” (Dt. 16:19 – NVI)
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostrou que o Brasil tem perdido com atos de corrupção em torno de 1,38% a 2,3% do Produto Interno Bruto, ou seja, entre R$ 50 bilhões e R$ 84,5 bilhões, segundo os dados da economia brasileira relativos a 2010. O mesmo estudo também mostra que a redução de apenas 10% no nível da corrupção, aumentaria em 50% a renda per capita do brasileiro, num período de 25 anos.
Contudo, essas tramóias não acontecem apenas nos altos escalões do Poder, mas jaz também nas microrrelações cotidianas, nas diversas estruturas e instituições da sociedade civil. Tudo isso acontece porque somos uma sociedade baseada no “acumular posses” e no “ter”, em detrimento do “ser”, o que potencializa o desvalor da vida e o crescimento da miséria.
Esse vírus diabólico que tenta contaminar a todos busca, inclusive, fragilizar a compreensão do legado ético da Palavra de Deus, no que diz respeito ao papel da Igreja de Jesus, que é, antes de tudo, promover o evangelho do Reino, que traz novidade de vida e sinaliza os valores do Deus que afirmamos servir. O Deus que servimos não tolera a corrupção e “repudia as balanças desonestas” (Pv. 11:1). Acusa o corrupto de só pensar em “lucro desonesto, derramar sangue inocente, opressão e extorsão.” (Jr. 22:17).
O Cristo acossado no deserto pelo poder maligno corruptor, que promete os Reinos desse mundo para facilitar sua missão, prontamente o fustiga, pois tinha consciência que tanto os fins como os meios importam no projeto de Redenção da humanidade e que só se pode subverter e transtornar os poderes opressores quando nossa práxis destoa dos atalhos desonestos da prevaricação.
Logo, nossa luta contra a corrupção, antes de ser motivada por uma agenda partidária ou por alguma ideologia, faz parte do nosso papel de abençoadores da nossa geração e deve nos levar a denunciar o “governante que exige presentes, o juiz que aceita suborno, os poderosos que impõem o que querem.” (Mq. 7:3).
Portanto, ante tanto nepotismo, coronelismo, tráfico de influências e mordomias absurdas, nós somos convocados a viver de forma diferenciada e a sermos instrumentos proféticos para o bem de todos.
Oração:
Senhor, livra-nos da sede de poder, que polui nosso coração, que gera morte e divisão. Sejam, por Tua Graça, calçados os nossos pés no zelo pelo que é correto e pela Implantação do Teu Reinado nesse mundo. Que permaneças conosco quando formos tentados a vender nossa integridade nos áridos caminhos que trilhamos nesse mundo. Fortalece nossa voz, para que o mundo saiba que é possível sonhar com a vereda da Justiça. Guarda nosso coração do mal e nos livres dos desejos de poder que distorcem a fé. Pedimos em nome do Cristo, Nossa Viva Esperança. Amém!
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Caio Marçal é missionário e Secretário de Mobilização da Rede FALE. É casado com Viviane e membro da Igreja Batista da Redenção.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Por uma alimentação realmente saudável

Por Daniela Frozi
6 de outubro: dia mundial da alimentação. Uma data festiva que teve seu início em 1981 e é atualmente comemorada em mais de 150 países. Tornou-se uma importante maneira de resgatar a consciência sobre o ato alimentar, inclusive conscientização política relacionada com os diferentes desafios que a alimentação representa para a sociedade e para o planeta como um todo. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) dá destaque à data e ajuda a aumentar a compreensão de problemas e soluções na busca pela erradicação da fome.

Modelos de produção de alimentos baseados em formas insustentáveis de desenvolvimento colocam em risco o meio ambiente e as pessoas, ameaçam o fim das tradições alimentares por causa da padronização dos alimentos feita pela indústria e avançam sobre a biodiversidade dos ecossistemas alimentares. 


Os clamores individuais de grupos sociais por profundas mudanças em nossa agricultura e nosso sistema alimentar se tornam um clamor coletivo da sociedade. Neste dia especial, o que está posto são diferentes perguntas reflexivas. Por exemplo: como seria um sistema alimentar sustentável? É possível passarmos da situação atual para essa proposta? O que precisaria ser mudado e o que precisaria ser mantido para nos mover nessa direção? O Dia Mundial da Alimentação de 2013 é uma oportunidade para refletirmos sobre essas e outras questões, e ajudarmos a construir, de fato, um futuro que nós queremos. 



Reconhecemos a centralidade do tema da alimentação no Brasil, principalmente no que incide sobre nossos específicos grandes desafios, como: o uso abusivo de agrotóxicos, a intensa liberação de sementes transgênicas e a forte presença de alimentos ultraprocessados oriundos das indústrias de alimentos transnacionais, que produzem e disponibilizam cada vez mais alimentos baratos e com alto potencial nocivo à saúde humana. 



Sabemos que os agravos à saúde humana, provocados por um sistema alimentar insustentável, não se resumem ao problema da obesidade. Parece haver uma lacuna nas notificações de doenças agudas e crônicas relacionadas ao impacto dos agrotóxicos e aos alimentos geneticamente modificados, que vai desde prejuízos mais simples como alergias alimentares até doenças como o câncer. 



Não dá mais para falarmos sobre alimentação saudável sem que isso nos faça pensar sobre o que significa realmente ser saudável. Alimentos e nutrientes não compõem a totalidade do termo “saudável” na alimentação. O que é saudável, de forma alguma, pode ser resumido apenas aos componentes nutricionais ativos potencialmente benéficos à saúde. 



Atualmente temos uma construção mais ampla e profunda sobre o conceito de alimentação saudável. É importante saber se esta alimentação dita saudável é livre de injustiças sociais, como o trabalho infantil e o trabalho escravo. O que comemos é livre de agrotóxico e de transgênicos? Nossa alimentação é rica em biodiversidade? É adequada à cultura local? É baseada em sistemas produtivos solidários como os da agroecologia? A alimentação saudável deve ser mais parecida com o que nossos avós reconheceriam como comida. Sendo assim, ficam de fora todos os alimentos ultra-processados pela indústria (prontos para o consumo, mas com alto teor de gorduras, sal e açúcar). 



Para construirmos coletivamente um conceito mais exato de alimentação saudável precisamos convocar mais atores de nossas redes e movimentos sociais da sociedade civil organizada para:

- Somarem forças na participação social;
- Encontrarem espaços propícios para a ação e a reflexão sobre a alimentação saudável;
- E se envolverem em processos de monitoramento do direito humano à alimentação adequada e exigir que esse direito seja viabilizado para todos e todas.
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Daniela Sanches Frozi é doutora em Nutrição, tem gasto seu tempo apoiando e construindo políticas públicas da alimentação, especialmente para os que vivem em extrema pobreza no Brasil. É membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (representante de RENAS) e 1a vice-presidente da Aliança Bíblica Universitária do Brasil. Artigo publicado originalmente em Novos Diálogos

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Coletivo Evangélico promove clamor contra a Corrupção

Um movimento contra a corrupção pessoal e institucional, levado a cabo por entidades cristãs de todo o mundo, pretende ser a voz do clamor da população global contra líderes e governantes que não governam em favor do bem comum. Trata-se do Exposed 2013, com o slogan “Corrupção Mata! Exponha-a! Denuncie! Ponha um foco de luz na Corrupção”. 
Depois de promover uma série de ações de prevenção e combate à corrupção durante o ano de 2013, Exposed realizará entre os dias 14 a 20 de outubro uma Vigília contra a Corrupção Global. Participe desta luta! Clique aqui para ter acesso aos materiais da campanha.
No Brasil, Exposed é coordenado por diversas entidades, dentre elas o coletivo Ame a Verdade: Evangélicos contra a corrupção. Trata-se de um grupo de organizações evangélicas com presença em todo território nacional envolvidas em diferentes ações de defesa de direitos. A Rede FALE é uma das organizações parceiras do Ame a Verdade.
Segundo Serguem Jessui Machado da Silva, representante da Tearfund Brasil, o movimento Ame a Verdade abraçou a causa da Transparência Pública e Governança com o objetivo de aprofundar a compreensão do tema em suas diferentes perspectivas.
“A causa contra a corrupção é, na verdade, um grande clamor pela vida”, ressalta o pastor Daniel de Almeida e Souza Jr, da Aliança Cristã Evangélica Brasileira. “A igreja precisa estar atenta aos processos de morte predominantes em todos os setores da sociedade e, assim, oferecer seu serviço humilde e diligente, que envolve oração e ação, cooperando sempre na promoção da justiça e da paz, valores constituintes do Reino de Deus”, acrescenta.
Para conhecer o site do movimento Ame a Verdade e saber mais à respeito das nossas ações, basta clicar aqui.
Para acessar a página no facebook, clique aqui.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Polícia para quem precisa de polícia: A pedagogia da violência dos governantes do Rio


Por Clemir Fernandes

Educação por si só não muda um país, mas sem educação, sobretudo de qualidade, nenhum país alcança pleno e sustentado desenvolvimento, especialmente humano e social. É o que nos ensina mestre Paulo Freire, que tomo aqui de maneira livre.
A mais recente pesquisa da PNAD (IBGE) revelou, por exemplo, que estatisticamente o índice de analfabetismo se manteve estável, isto é, deixou de cair. Este é apenas um dos muitos problemas no contexto da educação brasileira, que tem ainda repetência, evasão, desestímulo de professores, sobrecarga de atividades dos profissionais, salários e estrutura de trabalho obscenos, modelos pedagógicos ultrapassados e muitos etcéteras.
Mas os professores persistem, resistem e insistem num trabalho sacerdotal pela educação no país. Caso ilustrativo é o Rio de Janeiro onde há 19 anos não havia nenhum movimento de discussão sério que levasse a uma greve, como acontece agora. Não que a situação fosse maravilhosa mas resignados se mantiveram em seu trabalho, procurando outras soluções. Agravando os problemas e também motivados pelas manifestações monumentais de junho e julho em todo país, eles ousaram mais em sua busca de melhor estrutura de trabalho, avanço pedagógico e salários mais dignos.
No entanto, ao invés de dialogar e negociar, com a mesma persistência de trabalho dos professores, os governantes, ao contrário, impõem projetos autoritários, e sem qualquer discussão, proíbem a entrada de professores na casa legislativa outrora conhecida como “casa do povo”. E não satisfeitos com tamanha truculência típica de regimes não democráticos, mandam suas forças de segurança, nomeadamente a Polícia Militar e seus batalhões de choque, agir com violência, como vem acontecendo, especialmente, desde o final de setembro na região central do Rio, onde professores tem se manifestado pacificamente.
E chegou-se a um impasse terrível, fruto da violência física, moral e simbólica contra os professores: as negociações estão cerradas.
O prefeito do Rio massacrou os profissionais da educação com sua ampla maioria na Câmara Municipal e o governador colocou sua polícia na rua para espancar, lançar gás de pimenta e dar tiros. Uma professora morreu a partir da violência da última terça-feira (01/10) na Cinelândia.
Os professores estão se sentindo, com justiça, ofendidos, desmoralizados, violentados. Os relatos de choro, angústia, impotência, tristeza, ira, depressão são vários entre esses profissionais. Como voltar para a sala de aula nessas condições?! Onde encontrar forças e motivação para retomar a tarefa educacional? Enquanto isso, milhares de alunos estão sem aulas; pais e responsáveis com suas estruturas de vida que são muitas vezes precárias, ainda mais complicadas; e as crianças sem alimentação, pois, como é sabido, a merenda escolar é para muitos alunos a alimentação mais importante que recebem diariamente. Óbvio que a responsabilidade é dos governantes que têm agido sem a grandeza, sabedoria e dever que o cargo lhes exige.
Já o tratamento dispensado pelos poderes públicos aos grandes eventos internacionais ocorridos e que virão a acontecer no Rio e em outras partes do Brasil é muito diferenciado. O tratamento é vip! As leis ordinárias do país são desconsideradas para atender extraordinariamente a interesses privados, sobretudo do grande capital internacional. Para quem constrói a base primária do país, em cujo estrado se sustenta todo o edifício de desenvolvimento da nação – que são os profissionais de educação – o tratamento é a brutalidade, com violência simbólica e física.
E a sociedade, sobretudo seus intelectuais, permanecem calados. Não surge ninguém para mediar esse conflito, para convocar as partes, principalmente exortar os poderes públicos a tratar com a responsabilidade de quem é a parte mais forte e tem mandato público a agir de maneira respeitosa com os professores. Cadê a OAB, a ABI, a CNBB, as demais grandes representações do país, inclusive grupos evangélicos?! Sim, existem algumas manifestações pontuais, mas de grupos menos expressivos para a ampla sociedade.
É tempo de oração, mobilização, reflexão, pois a causa é justa. Quem sabe fazer o bem e se omite, diz a linguagem religiosa do apóstolo, comete pecado (Tg 4.17). Jesus, ao contrário, jamais se omitiu, mas andou por toda parte fazendo o bem, informa outro apóstolo (At 10.38). Ao que completa o teólogo René Padilla: A tarefa da igreja é dar continuidade a essa missão de Jesus.
O que temos feito, o que estamos fazendo e o que devemos fazer?
Ouçam, a sabedoria está gritando nas praças e nas ruas (Pv 1.21).
Clemir Fernandes é pastor e formado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul, em Ciências Sociais (UFF), mestre em Sociologia (UERJ) e doutorando em Ciências Sociais (UERJ). É pesquisador do Instituto de Estudos da Religião (ISER), redator da revista de estudos bíblicos Compromisso (Juerp/Convenção Batista Brasileira), coordenador do grupo gestor da RENAS-Rio, e do núcleo do Rio de Janeiro da Fraternidade Teológica Latino Americana-Brasil. É editor-adjunto da revista Novos Diálogos e apoiador da Rede FALE.
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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Ato Público Evangélico em favor dos professores e da educação no Rio



Nos últimos dias,  a categoria  dos professores  no Rio de Janeiro, que está em greve a mais de 50 dias,  tem sido alvo da  truculência policial em suas manifestações. Há vários relatos e imagens que comprovam o abuso de poder e uma repressão desmedida. Os policiais usaram bombas de efeito moral, cassetetes e de gás lacrimogêneo numa repressão e que tem gerado repulsa em amplos setores da sociedade carioca e brasileira. A  Rede FALE RJ, junto com a Rede Evangélica Nacional de Ação Social do Rio de Janeiro (RENAS RJ) e a Escola de Missões Verbalizando realizam no dia 8 de outubro uma mobilização em favor dos professores e da educação. 

Ronilso Pacheco, membro da Rede FALE RJ problematiza sobre o problema: “Decididamente a educação não é tratada como um valor importante“ afirma Pacheco. Para ele, há pouco investimento efetivo nas escolas no que diz respeito a qualidade, mas isso tem muito pouco a ver com o investimento do município. Ronilso arremata: “Não vamos fazer "um ato público evangélico" e sim fazer um "ato público evangélico pela causa dos professores e da educação".
  

O Pastor Batista, Clemir Fernandes, o evangelho chama a Igreja para o envolvimento na defesa da educação. “Professores são violentados, crianças e famílias desrespeitadas e o que a gente que se diz anunciador das boas novas faz o quê? Quem sabe fazer o bem, diz o apóstolo, e não faz comete pecado“.  Clemir finaliza lembrando que esse é um ato de convergência: “É uma contribuição a mais, numa perspectiva evangélica, com uma estrutura já desenvolvida pelo FALE. Não são queremos concorrer com outros atos, mas convergir com eles“.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Evangélicos apoiam campanha contra a redução da Maioridade Penal



Entre os dias 12 a 14 de Julho ocorreu o 8° Encontro Nacional da Rede Evangélica Nacional de Ação Social, em Fortaleza.  Com o tema “Criança, Sociedade e Igreja“, o evento visou fortalecer a defesa firme e generosa dos direitos das crianças e adolescentes em nosso país.


A Rede FALE e o MJPOP estiveram presentes no evento e divulgaram a campanha “Fale contra a Redução da Maioridade Penal“. Caio Marçal, secretário da Rede FALE, assinalou em sua fala de apresentação da campanha no encontro de RENAS da importância do tema. “A graça solidária de Jesus, que se encarnou na periferia do mundo e tocou nos intocáveis desse mundo, não nos dá outra alternativa senão ser instrumento de Deus para ir em direção daqueles a quem a elite brasileira deseja expurgar“. Marçal também afirmou que são esses “o alvo preferencial das violências reais e simbólicas e que são geralmente os jovens pobres e negros que sofre um genocídio que as elites brasileiras teimam em não considerar“. Marçal finaliza “a Igreja de Jesus deve cobrar dos poderosos que políticas públicas para essa fase especial da vida sejam implementadas em vez de tão somente encarcerar nossos jovens e adolescentes“.

A Campanha contou com a aprovação e adesão de líderes evangélicos que estavam no encontro. Para o Pastor batista Eliandro Viana, coordenador do Projeto Bola na Rede, afirmou: “Não posso concordar com uma medida que vai agravar a punição da massa jovem do país que não teve os seus direitos assegurados. Isso é no mínimo falta de equidade, principalmente para as minorias negras, pobres deste país, que são por sua vez os únicos que vão pra cadeia“. Reinaldo Almeida, da Visão Mundial, argumenta que a redução da maioridade penal “não resolve o problema da violência e tira o foco do que realmente interessa: que é o massacre da juventude, especialmente da juventude negra, que está acontecendo no Brasil“.

A Campanha lança alguns dados importantes para a questão. Embora alguns meios de comunicação jogam sobre os adolescentes a responsabilidade pelo aumento da criminalidade, apenas 5% dos crimes praticados no Brasil são cometidos por adolescentes. Enquanto isso, é nessa faixa etária que se sofre com a violência, problema que tem piorado nos últimos anos. Entre 1998 a 2008, o número de adolescentes e jovens assassinados no Brasil cresceu quase 20%. Se ele for negro e mora na periferia, sua chance de ser assassinado é quatro vezes maior. Outro dado importante mostra que Quase 90% dos adolescentes em conflito com a lei não completou o ensino fundamental, um forte indício de que os atos infracionais desse grupo estão diretamente ligados à falta de escolarização adequada.

A Rede FALE e o MJPOP entendem que reduzir a maioridade penal isenta o Estado do seu compromisso com a juventude, por acreditar que faltam políticas públicas que atendam a juventude brasileira e pelo não cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente.