quinta-feira, 28 de abril de 2011

Contagem regressiva

Sara Tironi*

"Cuidado, que ninguém os engane. Muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e enganarão a muitos. Quando ouvirem falar de guerras e rumores de guerras, não tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam, mas ainda não é o fim. Nação se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá terremotos em vários lugares e também fomes. Essas coisas são o início das dores. Fiquem atentos, pois vocês serão entregues aos tribunais e serão açoitados nas sinagogas. Por minha causa vocês serão levados à presença de governadores e reis, como testemunho a eles.” (Marcos 13.5-9, NVI)

Uma amiga, certa vez, sugeriu-me que se observássemos a história mundial depois de Cristo, o discurso de Jesus a respeito de sua volta e do princípio das dores poderia muito bem ser resumido no versículo “Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai.” (Marcos 13.32).
Muitos tem olhado para o atual contexto desastroso no qual vivemos e anunciado que as dores começaram.
Limpeza étnica em Ruanda, em 1994, e em Kosovo, em 1999. Atentado terrorista aos EUA em 2001, seguido de contrataque do país norte-americano ao Afeganistão, e declaração guerra ao Iraque em 2003. Guerra do Líbano em 2006, continuando o conflito árabe-israelense, que permanece latente desde o século dezenove. Povos árabes vivendo sua “Primavera dos Povos” em 2011. Crise humanitária na Líbia. Na Costa do Marfim. Na África inteira. Tsunami no sudeste asiático em 2004. Na Indonésia em 2006. Nas ilhas da Oceania em 2007 e 2008. No Chile em 2010 e mais uma vez na Indonésia, no mesmo ano. No Japão em 2011. Mais de 400 mil mortes e um acidente nuclear com consequencias drásticas. Cerca de 17 terremotos graves nos últimos dez anos. Centenas de vidas dizimadas pela SARS em 2003. Surto de gripe aviária em 2005. Uma equipe médica de Massachusetts prevê para 2011 a contração de cólera por cerca de 800 mil haitianos, gerando pelo menos 11 mil mortes. AIDS. Efeito estufa. Aquecimento global. Alterações climáticas drásticas que quando não destroem vidas e plantações pela seca, destroem-nas pelas enchentes. Fome. Mais doenças. Al Gore diz que a destruição do mundo é uma verdade inconveniente. Outros ambientalistas, entretanto, juram de pés juntos que a Terra só está passando por mais um de seus ciclos.
De fato, os últimos anos da história global se parecem muito com o retrato que León Gieco fez da América Latina em seus últimos cinco séculos:

“Solidão sobre ruinas, sangue no trigo, vermelho e amarelo, manancial do veneno, escudo, feridas, (...) liberdade sem galope, bandeiras rasgadas, soberba e mentiras, medalhas de ouro e prata contra a esperança (..). Desamor, desencontro, perdão e esquecimento. Corpo com mineral, povos trabalhadores, infâncias pobres (...). Morte contra a vida, glória de um povo desaparecido é começo, é final, lenda perdida”. (León Gieco, “Cinco Siglos Igual”, tradução nossa)

Estaríamos mesmo vivendo o princípio das dores?
Nos primeiros séculos depois de Cristo, tanto os cristãos perseguidos, quanto aqueles que divertiam os romanos nos circos, em espetáculos sangrentos, provavelmente acreditavam que já estavam no princípio do fim. Como conta Suetônio em seu livro A vida dos doze Césares, “aos cristãos, espécies de homens afeitos a uma superstição nova e maligna, inflingiram-se suplícios” (1). Contudo, ainda não era o fim.
Quando os perseguidores dos cristãos tornaram-se os “paladinos da Igreja” e o Evangelho foi submetido ao pensamento do poder romano, tornando o cristianismo a Religião oficial do Império, aqueles que ousaram discordar do novo pacto foram igualmente perseguidos (2). Entre mortos, exilados, e escravizados, a maioria esmagadora desses novos “hereges” provavelmente entendeu que Jesus estaria voltando. Todavia, ainda não havia chegado o fim.
Nos séculos que se seguiriam, muitos ainda recusavam-se a seguir a ordem eclesiástica que foi se construindo ao longo dos anos. Logo depois da criação da Igreja de Estado, criou-se também a Inquisição, para repressão dos “pecadores”. Em mais de mil anos de caça às bruxas, milhões foram perseguidos e cruelmente torturados (3). Foi dentro desse mesmo período que o mundo sobreviveu a outros horrores como as cruzadas contra infiéis, a colonização das Américas e da África baseada no massacre, aculturação e escravismo de nativos, a Guerra dos Cem Anos e a Grande Fome. Enquanto isso, no século XIV, “Outono da Idade Média”, um terço da população europeia morria pela Peste Negra, sem contar as vítmas de outras regiões do globo. Apesar de estarem presentes todos os sinais dos tempos, o fim não chegou dessa vez.
E se o fim não chegou nem na Idade Média e nem no início da Idade Moderna, tampouco chegou com as crises que nos levaram às Grandes Guerras Mundiais, nem com aquelas que se instauraram após os conflitos.
Percebendo a ciclicidade da história do mundo, tive que concordar com minha amiga. É difícil precisar se estamos vivendo o início do fim dos tempos. E a imprecisão só nos leva à certeza de que o fim, só Deus sabe.
Desde a ascensão de Jesus, cada geração viveu na expectativa de ser a última, e nenhuma geração passou sem que todos os sinais acontecessem (Marcos 13.30).
Sendo tarefa vã a tentativa de marcar uma data na agenda para “a volta do Senhor”, viver todos os dias a eminência do fim, para além de ser uma recomendação de Jesus (“vigiai, porque não sabeis o dia em que vem o vosso Senhor”, Mateus 24.42), parece ser um verdadeiro convite à vida e à fruição de nossos relacionamentos com mais intensidade.
Soa como uma sugestão a vivermos como o operário da música Construção de Chico Buarque, no dia de sua morte: amar daquela vez como se fosse a última, beijar sua mulher como se fosse a única e cada filho seu como se fosse pródigo, comer feijão com arroz como se fosse o máximo, e morrer na contramão atrapalhando o trânsito. Parece ser um chamado a vivermos sempre a última ceia: lavando os pés uns dos outros e repartindo o pão e o vinho uns com os outros, anunciando dessa forma a morte do Senhor, até que ele venha (1 Coríntios 11.26).
E quem sabe responder a esses convites positivamente não seria a única maneira de se cumprir a condição de que as boas novas do amor de Deus chegassem a todas as nações (Marcos 13.10) antes do fim?
Se vivêssemos dessa forma, apesar do cenário catastrófico prenunciado na Bíblia para o final dos tempos, certamente poderíamos cismar, como Mário Quintana, “como seria belo o fim do mundo, antes de Cristo” (4).

"No fim de um mundo melancólico/ os homens lêem jornais./ Homens indiferentes a comer laranjas/ que ardem como o sol.// (...)// O poema final ninguém escreverá/ desse mundo particular de doze horas./Em vez de juízo final a mim me preocupa/ o sonho final."
(João Cabral de Melo Neto, “O fim do mundo”).

* Sara Tironi está estudando Direito na Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (USP), pesquisa sobre os temas de direito internacional dos direitos humanos, direito humanitário e cooperação internacional. Faz parte da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB) e da Rede FALE São Paulo. Texto publicado por Novos Diálogos

Notas
(1) SUETÔNIO, A Vida dos doze Césares. 2. ed. São Paulo: Ediouro, 2002. p. 354.
(2) FO, Jacopo; TOMAT, Sergio; MALUCELLI, Laura. O livro negro do cristianismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 14.
(3) Ibidem.
(4) Mário Quintana. Fim do Mundo.

sábado, 23 de abril de 2011

Uma Páscoa de Encontros...

Jovens na Oficina da Rede FALE
*Por Morgana Boostel

Acho que uma das Páscoas mais emocionantes de minha vida passei em território estrangeiro. Foi há 2 anos atrás. Havia recebido uma convocação para representar a Rede FALE em uma grata viagem inesperada. Meu destino, Montevidéu – Uruguai.

Fui participar de um encontro denominado “Missão sem medo de sonhar”, onde estiveram reunidos jovens cristãos de diversos países (Brasil, Equador, Colômbia, Peru, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai, Argentina, Honduras, Costa Rica, Nicarágua, Inglaterra e Estados Unidos). Lá pudemos compartilhar sonhos e sonhar junto! Como já dizia Raul Seixas, “sonho que se sonha junto é realidade”. Refletimos em conjunto sobre a missão integral, construímos estratégias para trabalhá-la na igreja, na comunidade, seguindo assim os passos de Jesus. O evento foi organizado pela Rede Miquéias, que une diversas organizações cristãs envolvidas em apoio cristão, desenvolvimento e justiça. O intento era reunir organizações de toda a América Latina. O evento permitiu que 85 jovens que trabalham em suas igrejas, organizações cristãs e comunidades se reunissem de 7 a 12 de abril de 2009 em Canelones – Uruguay.

Foram quatro dias de intenso aprendizado e trocas, muitas trocas. E nesse encontro uma descoberta obvia...

Percebi que sou latino americana!

Isso parece obvio, já que nosso país é de língua latina no continente americano, mas isso nunca me bateu tão forte. Nossa identidade não é explorada, nós brasileiros, consideramo-nos superiores, em outra escala de desenvolvimento, pobres de nós! Somos realmente melhores que nossos irmãos latinos? Ou será que isso não reproduz e amplifica o modelo de exploração imperialista? É triste constatar isso, mas nos distanciamos porque queremos, porque somos egoístas... Não nos distanciamos apenas por conta da diferença no idioma, – mesmo porque na América Latina não se fala apenas português e espanhol, mas também guarani, quíchua, aimará, entre outras – mas fomos educados a valorizar um modelo europeu desmerecendo todos os outros, só podemos nos igualar a essa cultura dita mundial, mas esquecemos de nossa própria cultura, tão semelhante a de nossos “hermanos”.

As questões de injustiça que assolam nossos países são muito próximas e creio que espaços como esse podem nos ajudar a compartilhar as novas formas e modos de (re)criar este mundo.

Tentando resumir aquela semana no Uruguai, posso usar uma palavra: ENCONTRO.

Se me puder alongar um pouco mais, diria que tive a oportunidade de me encontrar comigo mesma, no meu sentimento de latinidade... Pude me encontrar com pessoas cujo coração pulsa por justiça... Pude me encontrar com organizações que trabalham sério pela promoção do reino de Deus aqui na terra!

E na manhã de páscoa, compartilhamos do pão e do vinho, celebramos a ressurreição daquele que nos reconciliou consigo, o próprio Deus, e que nos move a cada dia a prática da justiça, a justiça que ele trouxe... “Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2. 7 e 8 – Bíblia de Jerusalém)

O exemplo vivo de justiça, amor, serviço, cuidado, renegação e de tantas outras coisas que poderíamos elencar.

Que nessa Páscoa nossas vidas promovam justiça, a exemplo de Jesus!

Que os encontros se multipliquem e se (re)produzam, para o crescimento do reino de Deus!





*Morgana Boostel, psicóloga, atua como Secretária Executiva da Rede FALE desde abril de 2010.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Conjuve define representantes na Comissão Organizadora e discute regimento da II Conferência Nacional de Juventude

Por Max Dias*


A ultima reuniao do Conjuve, ocorrida entre os dias 14 e 15 de abril, foi preponderante para que caminhássemos rumo a II Conferencia Nacional de Juventude. Uma proposta de comissão organizadora foi levada pela mesa e aprovada pelo plenário ficando a cargo dos conselheiros presentes um debate acerca do regimento interno da Conferência. Alguns pontos tinham discordância de parte dos conselheiros, mas ficou pactuado que a comissão versaria sobre cada um deles com total atenção a fim de que a realização da Conferencia não seja prejudicada.

Esta reunião marcou também a posse da nova Secretária Nacional de Juventude Severine Macedo. Severine assume com um discurso de diálogo com o Conselho, tendo como prioridade o enfrentamento à mortalidade da juventude negra; trabalho decente; Plano de Banda Larga; inclusão produtiva e autonomia das mulheres jovens; e o estímulo à juventude rural de forma a garantir a sucessão da agricultura familiar.

Ministro Gilberto Carvalho e a nova Secretária
Nacional de Juventude, Severine Macedo.
Severine falou ainda sobre a Conferência Nacional de Juventude, que acontece entre os dias 9 e 12 de dezembro deste ano. Para ela, a conferência deve ser um instrumento mobilizador que contribua para que os eixos defendidos e aprovados naquela instância se transformem em um grande Plano Nacional de Juventude.


*Max Dias é conselheiro do CONJUVE pela Rede FALE.

Leia mais:


Nova secretária Nacional de Juventude toma posse e destaca pontos de atuação para os próximos quatro anos

quinta-feira, 14 de abril de 2011

PARA TODOS QUE CHORAM

Carta aberta da Rede FALE sobre as mortes acontecidas na escola Tasso da Silveira em Realengo, Rio de Janeiro.

Chorar é um ato radical, é o clamor da alma. É derramar a mais pura essência do sentimento em gotas cálidas de emoção. Sim, sabemos que alguns choram de alegria, e que elas podem expressar o nascimento de uma criança, porém hoje vertemos lágrimas por pequeninos tiveram suas vidas ceifadas tragicamente.

Não há palavras que traduza o nó na garganta ante a barbárie vivida na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro. É inaceitável pensar na ideia de que crianças sejam alvo de tamanha brutalidade. Porém é mais inaceitável ainda que alguém tenha acesso tão fácil a armas e munição.

A transbordante violência acontecida nesse ato louco é tão somente o sintoma de algo que é visto em proporções menores todos os dias. Pessoas de todas as idades morrem cotidianamente em nossas cidades vitimadas por armas de fogo. Muitas dessas armas letais chegam na mão de qualquer um porque ainda há uma grande circulação delas e falta de fiscalização do estado. É comprovado que a presença delas nos lares faz também aumentar grandemente as chances de acidentes, suicídios e homicídios culposos ou mesmo dolosos, em vez de servir como mecanismo de defesa.

desarmamentofale Em 2005 (ano do referendo sobre o desarmamento), a Rede FALE mobilizou-se com a campanha FALE PELO DESARMAMENTO que, entre outras reivindicações, pedia a adoção de medidas rigorosas para o controle da produção, importação, exportação e circulação de armas de fogo e munição em nosso país, fiscalizando-se também, com maior eficiência, as empresas de segurança privada e polícias, a fim de serem coibidos os desvios de armamentos para organizações criminosas e a imprescindível proibição do comércio de armas para a população civil.

Na disputa do referendo sobre o comércio de armas, os vencedores coordenaram a campanha do VOTO contrário ao desarmamento, foram bancados pela indústria de armas e deram a falsa ideia de que votar “Sim” seria o mesmo que favorecer os criminosos. Hoje a maioria dos crimes e assassinatos são praticados com armas provenientes do mercado legal, prova cabal de que tal alegação não passava de sofisma.

A Bíblia afirma que Deus enxugará dos olhos todas as lágrimas. Sim, é verdade... Mas muitas dessas lágrimas poderiam ser evitadas! Até quando instrumentos de morte serão fabricados com a desculpa de trazer segurança? Quantas outras vítimas involuntárias irão tombar para que nossa gente tome consciência do poder destrutivo das armas? Quantos “brasileirinhos e brasileirinhas” ainda terão suas vidas tomadas pelo terror que nos cerca enquanto o estado brasileiro teima em não criar políticas públicas que fortaleçam uma cultura de paz?

A Rede FALE se manifesta em favor da vida. Para todos que também choram conosco diante da violência acontecida em Realengo, nossa mensagem é:

Chorar é um estado de alma, é ser plenamente humano e totalmente divino. É um bem espiritual que Deus nos dá. É a capacidade de sentir numa época onde a lógica é ter peito de pedra e coração de latão. Felizes são os que choram, pois deles é o Reino de um Deus que por meio do seu sangue reconcilia toda a sua criação. Queremos convocar todos vocês que orem junto conosco para que nosso país converta “...suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices”(Isaías 2:4).

Em Cristo, o Príncipe da paz.

Caio  Marçal – Secretário de Mobilização Nacional da Rede FALE
mobilizacao@fale.org.br
Twitter: @redefale

terça-feira, 5 de abril de 2011

Juventude Negra – Sujeito de Direitos

Foto Oficial do IV Encontro Afro Cristão
Os jovens foram escolhidos como tema central do IV Encontro Afro Cristão 2011, que se realizou em São Bernardo do Campo/SP de 1 a 3 de abril: “Juventude Negra – Sujeito de Direitos”. O Encontro, promovido pelo Ministério de Ações Afirmativas Afro-descendentes da Igreja Metodista, e também contou com apoio da Rede Ecumênica de Juventude (REJU), da EST (Escola Superior de Teologia), CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviços), Faculdade de Teologia e prefeitura do município de São Bernardo do Campo.
De acordo com André Guimarães, falante do Rio de Janeiro/RJ que esteve marcando presença “o encontro é fruto da caminhada e do clamor de homens e mulheres de confissão cristã que buscam discutir e resolver os problemas criados pelo racismo em suas igrejas e na sociedade”.
Para cada jovem branco assassinado em 2008, mais de 2 negros morreram nas mesmas circunstâncias, segundo indica o Mapa da Violência 2011 – Os jovens do Brasil, elaborado pelo Instituto Sangari em parceria com o Ministério da Justiça. E uma recente polêmica na imprensa confirma que a violência não é apenas física, mas também moral: o pastor Marco Feliciano, deputado pelo PSC de São Paulo, faz coro com declarações racistas do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e afirma, numa inadmissível ignorância teológica e histórica, que o povo africano é amaldiçoado desde os tempos de Noé.
Ainda para André Guimarães “tal discussão é necessária pois a juventude negra tem sido, ao longo da história, violentamente invisibilizada e assassinada, tanto pelo Estado, como pelas Igrejas”.
O calor do Espírito Santo proporcionou debates riquíssimos durante o encontro, que resultou em uma linda carta intitulada “compromissos negros”. Este documento é destinado a todos e todas que são detentores da sede de justiça e do desejo de temperar esta terra com o sal do Reino de Deus. Segue o documento:

----
Compromissos negros


Nós, irmãs e irmãos de distintas confissões religiosas e experiências de luta em defesa da vida e de direitos - reunidas(os) no 4º Encontro Afro-Cristão, realizado entre 1-3 de abril na Universidade Metodista de São Paulo, em São Bernardo do Campo - fomos provocadas(os) pelas lutas e esperanças do povo negro, a refletir sobre as juventudes negras como sujeitos de direito e assumir os seguintes compromissos de incidência pública:
1. Construir, nas comunidades, possibilidades de diálogos e intervenções a partir dos Direitos Humanos com intuito de fortalecer as ações a serem desenvolvidas em decorrência do ano Internacional da Juventude e o ano Internacional dos afro-descendentes;
2. Oportunizar liturgias a partir das experiências corpóreas, identitárias e culturais das juventudes;
3. Fortalecer a implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/08 – a inclusão das temáticas (negra e indígena), nas Escolas Dominicais e de Formação Teológica;
4. Garantir espaços de participação e visibilidade para as juventudes, com equidade de gênero e etnia;
5. Organizar produções teóricas de estudos bíblicos que abordem temáticas a partir das diversidades e superação das intolerâncias;
6. Politização das Comunidades: organização por meio de conferências livres, para enviar o maior número de propostas para a II Conferência Nacional da Juventude (Cada comunidade deverá preparar pequenos fóruns e enviar as proposta aos delegados e delegadas municipais);
7. Fortalecer as campanhas nacionais contra o extermínio das juventudes.

Por fim, ao assumir estes compromissos, nos posicionamos como corpos negros que resistem às desigualdades e injustiças e continuam a afirmar e construir, em esperança, uma casa realmente habitável para todas as pessoas, em diversidade-irmandade.

Axé.


São Bernardo do Campo, 03 de abril de 2011