quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Campanha por Saneamento continua em 2008

No último encontro nacional do FALE, no Rio de Janeiro, a coordenação nacional do movimento decidiu pela continuação da campanha por saneamento ambiental. Essa decisão faz parte da busca por maior efetividade das nossas campanhas. Assim, teremos mais um ano repleto de atividades de formação, oração e mobilização no tema do Saneamento Ambiental – todas voltadas para a promoção do bem estar, da saúde e para a garantia dos Direitos sociais da população brasileira.

Contudo, planejamos algumas mudanças para este ano. Até aqui, a campanha abordou a questão sob uma perspectiva nacional, trazendo o tema geral para o debate. Agora, planejamos trazer a campanha para mais perto dos grupos locais. Esta sempre foi uma demanda esperada e agora vai se tornar realidade. Nossa intenção é fazer uma ligação entre o cartão Ore&Envie e as atividades locais desenvolvidas nas igrejas e nas universidades.

Isso vai acontecer da seguinte forma: vamos ter dois cartões. Um deles vai ser o 'tradicional' cartão do FALE – você recebe, ora, leva para seu grupo de oração, assina e põe no correio. O outro, ao contrário, será um cartão que só vai ser enviado para os grupos locais que se organizarem e solicitarem. Esse cartão vai requerer de você uma atividade a mais para contribuir com a campanha do FALE: colocar o seu bloco na rua!

A idéia é que cada grupo local leve esse segundo cartão, junto com os membros da sua igreja ou do seu grupo de ABUB, para ser assinado pelos vereadores da sua cidade. Assim, ao final do primeiro semestre de 2008, teremos uma lista dos vereadores que se comprometeram em promover políticas públicas, no seu município, para a implementação da Política Nacional de Saneamento Ambiental aprovada em âmbito federal. Essa ação pode ser conjugada com outros movimentos, e também com atos, passeatas, manifestações – e isso tudo pode ter um toque de música, de arte, e de criatividade. Esperamos que a demanda pelos cartões, por material e por atividades continue crescendo.

Ao longo de todas as campanhas do FALE até aqui, temos ao nosso lado a benção da surpresa. Seja através de contatos inesperados de crentes inconformados com as injustiças do país; seja pelo engajamento de mais grupos na oração, mobilização e no envio de cartões; seja pela reação inusitada do sujeito 'alvo' das campanhas – como alguns que responderam cartas para todos os crentes que enviaram os cartões, ou distribuíram material próprio, buscando justificar suas posições.

É sempre assim. Em nossa pouca experiência na promoção e na defesa de Direitos percebemos que, ao buscar o Reino e a sua Justiça em primeiro lugar, Deus sempre atua de maneira que nos surpreende. Oremos para que Deus nos surpreenda novamente neste ano: que nossas orações nos movam e que nossas palavras toquem, com o auxílio do Espírito, nos corações de nossos irmãos. Que possamos ser ferramentas úteis para a transformação social e vozes proféticas de proclamação da Justiça!


Marcus Vinicius Matos
Coordenador de Campanha do FALE

FALE por Saneamento Ambiental no Brasil

Conheça a história da Campanha e os resultados obtidos até aqui

Em julho de 2006, durante o Encontro Nacional da Rede FALE, em Natal, ficou acertado o tema da atual campanha. Reunidos durante cinco dias de oração, discussão e planejamento, os membros da recém-formada coordenação nacional do FALE elegeram a questão do saneamento como o problema chave para o qual o movimento se voltaria nos próximos anos.

De fato, a relevância do tema é inquestionável: além de ser um problema relacionado à falta de moradia e habitação, trata-se de uma questão que influencia diretamente a saúde de milhões de brasileiros. Infelizmente, assim como em diversas outras questões – a exemplo da violência e das carências educacionais – o Brasil é um caso paradigmático em relação aos baixos índices de saneamento. Além disso, embora a discussão sobre o acesso a saneamento básico seja um exemplo claro dos níveis de injustiça e iniqüidade a que são submetidas as classes mais baixas do país, esta problemática possui, também, um viés de gravidade quanto ao meio ambiente. Dessa forma, o conceito de saneamento ambiental nos pareceu mais apropriado, pois enfrenta não só a questão do tratamento adequado às redes de esgoto, como também o acesso à água; a distribuição e coleta do lixo; e o tratamento dos resíduos poluentes ao meio ambiente.

Por isso, iniciamos 2007 com o cartão “FALE por Saneamento Ambiental no Brasil”, conclamando todos a orar por políticas públicas e maiores investimentos em saneamento ambiental. Além disso, desafiamos cada um que recebeu o cartão a não apenas enviá-lo, mas também a mudar seus hábitos na utilização da água; organizar reuniões de debate; e promover manifestações e atos em sua localidade.

O texto do cartão foi construído com a colaboração direta de dois professores: o Dr. João Tinoco (UFV), e o Prof. Luiz Azar Miguez (UNIRIO). Através de contatos com outras organizações que militavam na causa do saneamento ambiental, somamos força para a aprovação do Projeto de Lei 219/06, e para a ampliação de investimentos do governo federal - o que melhora as condições sanitárias da população pobre no país.

Nesse esforço, contamos com a divulgação das atividades do FALE no Blog; com o apoio dos grupos reunidos em universidades e igrejas para orar, mobilizar pessoas e organizar eventos; com um spot de campanha; e com empenho pessoal de cada um no envio individual do cartão para o Presidente da República. Vale destacar a participação do grupo da ABU da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que realizou um evento de grande importância para a campanha, em julho. Na ocasião, foram debatidos temas como Direito a saneamento ambiental; políticas públicas de saneamento; favelas e urbanização. O evento contou com a presença de cinco especialistas no tema, além de representantes de movimentos, sindicatos e favelas, e com a participação de Luis Cláudio Gonçalves - Coordenador de projetos da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental.

Resultados - A contagem da campanha até aqui foi de aproximadamente 500 cartões enviados ao Presidente; a aprovação da Lei do Saneamento (Lei nº 11.445/07), que resultou na Política Nacional de Saneamento (PNS); e do comprometimento do governo federal em investir aproximadamente 10 bilhões de reais por ano em saneamento.

Marcus Vinicius Matos
Coordenador de Campanha do FALE

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Então, é Natal...

Nesse dia de Natal, muitas vezes referido como festa da família, não podemos esquecer que muitas famílias não vivem de forma digna, tendo as mulheres e as crianças como as mais freqüentes vítimas de violências.

Nós, da família FALE, clamamos a Deus, neste Natal, pelas famílias brasileiras que não participam das luzes e festas, ceias e presentes, comercializados lucrativamente em detrimento de uma lembrança do humilde nascimento de Jesus Cristo, na periférica Belém.

Rodolfo Silva
Assessor de Diaconia FALE/ABUB


A matéria abaixo foi publicada na revista Passo a Passo 72, cuja versão eletrônica está disponível no endereço:
http://tilz.tearfund.org/Portugues/Passo+a+Passo+71-80/Passo+a+Passo+72/


Casamento
Lyn Lusi

HEAL África recentemente fez uma pesquisa sobre as atitudes e o comportamento em relação às questões de gênero em Pangi, na província de Maniema, na República Democrática do Congo. Um homem contou ao entrevistador: “Tenho um casamento feliz. Tenho um lar pacífico e feliz. Meus filhos são bem alimentados e vão à escola todas as manhãs, com roupas limpas. Minha esposa é minha companheira em tudo o que eu faço e é a pessoa que mais me apóia”. Porém, a esposa contou ao mesmo entrevistador: “Meu marido está sempre zangado e, às vezes, é violento comigo. Não tenho nenhum poder de decisão. O dinheiro que eu ganho não é meu. Eu jamais me atreveria a recusar fazer sexo”.

Muitos casamentos são assim: o marido acha que é um bom casamento, mas a esposa está infeliz. Como pode haver tanta falta de entendimento? Um casamento que é bom apenas para uma pessoa não é um casamento de verdade. Uma relação bem-sucedida deve ser mútua e trazer benefícios para ambos os parceiros. Tanto o marido quanto a mulher podem investir num casamento feliz, em que suas necessidades sejam satisfeitas e suas personalidades individuais sejam respeitadas. Num bom casamento, a relação fica cada vez mais forte com o passar dos anos.

Casamento prematuro
Aqui, na província de Maniema, muitas famílias negociam um casamento para as filhas quando elas têm apenas 12 ou 13 anos de idade. Isto é ilegal, mas, na prática, o casamento infantil continua. Isto significa que as meninas podem ser mães aos 14 anos, antes que seu corpo esteja totalmente desenvolvido. Como resultado, o trabalho de parto é, com freqüência, longo e difícil, e o bebê pode ficar preso na passagem do parto e acabar morrendo. O parto bloqueado pode levar a uma doença chamada fístula, em que o corpo da mulher fica seriamente danificado, fazendo com que ela vaze urina ou fezes, o que, muitas vezes, faz com que ela seja abandonada pelo marido e seja marginalizada pela sociedade. As fistulas obstétricas podem ser reparadas através de cirurgia. Desde de 2003, a HEAL África realizou mais de 1.000 cirurgias, transformando a vida de mulheres, para que elas pudessem retornar para as suas famílias. Enquanto se recuperam da cirurgia, as mulheres recebem aconselhamento, treinamento em mediação familiar e a oportunidade de aprenderem novas habilidades, tais como ler e escrever, costurar e fazer artesanatos. Assim, elas retornam para as suas comunidades com novos conhecimentos e experiências, o que lhes proporciona autoconfiança e restaura a sua auto-estima. Elas fizeram parte de uma comunidade e tiveram amor e esperança, os quais elas levam consigo para casa.

O papel da igreja
A igreja possui uma voz poderosa em muitas comunidades e deve se manifestar para mostrar as tradições prejudiciais e mudar as atitudes. Os líderes das igrejas, tanto os homens quanto as mulheres, podem ser muito eficazes em incentivar as boas relações familiares. Eles podem ajudar os homens a verem suas esposas como seres humanos e parceiras, não apenas como sua “propriedade”. No leste do Congo, as igrejas locais realmente conseguiram, juntas, ajudar a conscientizar as pessoas no combate contra todas as formas de violência sexual. Estamos vendo sinais de mudança. Mulheres conselheiras, escolhidas pelas igrejas, estão indo até as mulheres que sofreram estupro. Agora, quando elas se manifestam contra a violência doméstica e o abuso das mulheres, elas falam com o apoio das igrejas. Elas mandam a comunidade pegar o estuprador e envergonhá-lo e cercar a mulher de amor. Recentemente, um homem de uma área remota trouxe a esposa ao nosso hospital para receber tratamento após ter sido estuprada. Ele cuidou da esposa durante todo o tratamento e também aprendeu a ler e escrever ao lado dela, assim como a costurar. Eles foram para casa com uma máquina de costura para começarem juntos um negócio. Esta é uma parceria de verdade e um sinal animador de que as atitudes estão mudando.

Parceria
A violência sexual não é só um resultado da guerra. As atitudes sociais e as desigualdades de gênero também contribuem para ela. A violência doméstica é um problema que existe por toda a República Democrática do Congo. Pode haver parceria de verdade sem igualdade? Se um homem quiser que o seu casamento seja uma parceria, então não deve usar sua força superior ou a violência para forçar a esposa a se submeter. Uma mulher pode realmente amar um homem que bate nela? Quando há violência, há medo, não amor. Os homens e as mulheres são diferentes. Uma parceria valoriza o que ambas as pessoas trazem para a relação. Pode ser necessário conversar e ouvir muito e ter muita paciência para compreender o que cada pessoa quer e do que precisa num casamento. Conseguimos falar abertamente sobre o nosso casamento? Sabemos como nos ouvirmos um ao outro? A igreja na África tem a responsabilidade de mostrar o que Deus pretendia com o casamento, para que tanto o marido quanto a mulher possam dizer honestamente ao entrevistador: “Temos um casamento realmente feliz!”

Lyn Lusi trabalha para a HEAL África em Goma, na República Democrática do Congo, como Gerente de Programas. Ela expandiu o programa do Hospital- Centro de Aprendizagem, o qual agora inclui: planejamento familiar, maternidade segura, mulheres contra a violência, educação e cuidados domiciliares para a AIDS e reabilitação comunitária.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

FALE NO CONGRESSO "PARA QUE O MUNDO CREIA..."

No calor do sertão cearense e reunindo líderes e jovens de várias cidades e igrejas, aconteceu, entre os dias 6 e 9 de dezembro, o 1 º Congresso Missionário de Jovens da Região Norte do Ceará, organizado pela União da Mocidade da Assembléia de Deus de Sobral, que, entre outros parceiros, teve apoio Rede FALE e da ABU local. A finalidade do evento era a de capacitar/orientar/inquietar a viver o evangelho com paixão pela obra redentora do Cristo que encarna na História humana e se solidariza com os frágeis, consola os marginalizados, incomoda os poderosos e se doa com sua própria vida em favor da salvação de todos.

Com o tema "Para que o mundo creia..." e com o eixo em Missão Integral, o congresso teve também o intuito de construir diálogo em novos espaços que geralmente são esquecidos pelos "grandes eventos" e discutiu a amplitude da Missão Cristã no contexto nordestino. Temas como "Missão Integral - Caio Marçal", "Missão, Serviço e Testemunho – Rodolfo Silva", "Missão Urbana – Pedro do Borel" , "Missão no sertão – Juventude Evangélica Paraibana" e "Missão Transcultural – Secretaria Nacional de Missões da Assembléia de Deus" foram abordados.

Além de colaborar na concepção do evento e em parte das exposições com palestrantes, a Rede FALE e a ABU colaboraram com o material de reflexão e devocionais pela manhã. Reunindo cerca de 600 pessoas todas as noites, superando as expectativas iniciais dos parceiros do congresso. Testemunhos:

"Esse congresso foi um marco para nossa história, pois nele fomos despertados para a missão de propagar o Reino de Deus na terra e promover a esperança. Entendemos que missão é mais do que um dever da igreja, é um ato de amor que abrange não somente ir às nações, mas promover o bem e a justiça, para que a sociedade seja restaurada” Sheila Neves, Assembléia de Deus em Senador Pompeu

"O Congresso missionário se foi, mas espero que o nosso desejo de servir e de amar seja uma constante...que componha o nosso ser como extensão do nosso coração e de nosso pensamento...que seja um estilo de vida...uma maneira de ser e de agir. Vivamos em novidade de vida! Que não precisemos de um motivo ou um incentivo para amar...mas uma necessidade...uma urgente e preciosa necessidade de fazer missão." Ana Kelly, Assembléia de Deus de Sobral – FALE/ABU

Frases do congresso:

"Quando nossa Missão está bem entendida para nós, o Serviço que prestamos ao próximo é o Testemunho da nossa fé, através de boas obras". Rodolfo Silva

"Jesus via, agia e se compadecia das pessoas. Visão, compaixão se tornam em ação! Precisamos olhar as pessoas e o mundo com olhar com os olhos de Deus". Pedro do Borel

"Quando a igreja não encarna sua missão (anunciar e viver os valores do reino de Deus), ela deixa de ser comunidade de pecadores redimidos para se tornar sinagoga de fariseus". Caio Marçal

"Servir sem dar a vida é trabalho em vão. Dar a vida sem servir é heroísmo". Rodolfo Silva

" ... A Igreja ou é missionária, ou ela não é Igreja... Se ela não cumpre seu propósito, ela é sal que não salga, e sal que não salga só serve para ser pisado". Caio Marçal
"Privilégio não é andar onde Jesus andou, mas permitir que Jesus ande através de você por lugares que ele nunca andou". Pedro do Borel

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Evangélicos no Conselho Nacional de Juventude

Aconteceu no dia 10/12, a Assembléia para a eleição das 40 vagas destinadas à sociedade civil do Conselho Nacional de Políticas Públicas para a Juventude (CONJUVE), vinculado à Secretaria Geral da Presidência da República. Duas organizações evangélicas foram eleitas dentro da categoria "movimentos religiosos de juventude": a Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB) e Jovens com uma Missão (Jocum). Ainda estará participando na próxima gestão do CONJUVE (2008-2010) a Rede FALE, que foi eleita na categoria fóruns e redes.

Na primeira gestão duas organizações estiveram presentes, ocupando uma vaga como titular e suplente: o Movimento Evangélico Progressista e o Conselho Latino Americano de Igrejas e foram representadas, respectivamente, por Alexandre Brasil e Thiago Machado. Para a eleicao essas duas organizações não concorreram e as eleitas assumiram três vagas (titular e suplente).

Com o tema "Levante a sua bandeira", acontence em abril de 2008 a 1a Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude em Brasília/DF. Dentro deste processo estão sendo realizadas as conferências municipais e estaduais para a eleição dos delegados e conferências livres e a conferência virtual com o objetivo de ampliar a participação e incluir mais pessoas nessa discussão. Conferências Livres voltadas para a juventude evangélica estão sendo programadas no âmbito do Fórum Evangélico de Políticas Públicas de Juventude para o início de 2008.

Maiores informações podem ser encontradas em: http://www.juventude.gov.br e http://feppj.wordpress.com/.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Imagens do meu mundo: exposição mostra resultado de oficina de fotografia com crianças


Temas e cores clicados sem medo revelam infância e juventude da Vila São Francisco das Chagas e arredores do bairro Carlos Prates, na região noroeste de Belo Horizonte


Tente imaginar um grupo elétrico de crianças entre nove e onze anos, equipadas com máquinas fotográficas e filmes e incumbidas, depois de algumas instruções básicas, da missão de voltar com fotos tiradas por elas mesmas. O resultado, surpreendente por vários ângulos, pode ser visto na exposição Imagens do Meu Mundo, realizada a partir das fotografias das crianças do Projeto Acolher sob a orientação da estudante de jornalismo Ângela Bacon. A exposição pode ser vista a partir do dia 1 de dezembro no Centro de Educação São Francisco e segue para o Centro Cultural da UFMG, onde ficará aberta ao público entre os dias 6 de dezembro e 4 de janeiro de 2008. O circuito da exposição inclui também o Espaço Multimeios do Centro de Cultura Lagoa do Nado, onde a exposição estará entre os dias 10 e 31 de janeiro de 2008.

A iniciativa, parte de um projeto de conclusão do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tinha como meta não só fazer uma crítica da abordagem freqüentemente estereotipada da mídia para tratar a pobreza, como também tornar acessível à população de favelas um instrumento pelo qual ela pudesse mostrar sua visão pessoal do ambiente que a cerca.

Segundo Ângela, as imagens que aparecem nos jornais costumam enfocar pobreza, desemprego, criminalidade e apresentam esses indivíduos como vítimas passivas da desigualdade social. Mas essa é uma realidade já filtrada, pois traz o olhar de fotógrafos profissionais oriundos, em geral, de outras classes sociais. “O projeto propôs um deslocamento: como as câmeras fotográficas estão nas mãos da criançada, surgiram imagens mais carregadas da experiência delas”, explica. Para a estudante, essas fotografias podem dizer mais sobre a realidade e identidade das crianças, além de serem inovadoras e diferentes.


A capacidade de observação dos fotógrafos mirins transparece em enquadramentos inusitados, temas criativos, personagens diversos e no cotidiano visto de dentro, elementos que mostraram que dar oportunidade às crianças não exclui a possibilidade de um trabalho bem-feito e dotado de qualidade artística. “Cada revelação trazia novas surpresas”, conta Ângela.
Quando surgiu, nas primeiras décadas do século XIX, a fotografia mudou o mundo. A técnica, cujo nome vem do grego e significa “desenhar com luz”, tem raízes na Idade Média, que já investigava a câmara escura, e avança nos séculos seguintes com a descoberta da fotossensibilidade dos sais de prata.

Os dois princípios aliados obtiveram um produto que parecia reproduzir fielmente a realidade, o que provocou uma revolução na arte e resultou no progressivo abandono da pintura realista, na popularização dos retratos (até então exclusividade dos mais ricos), na invenção do cinema e na busca por novas formas de expressão.

Em tempos pós-Revolução Industrial, chegou-se a afirmar que a fotografia tornava a pintura obsoleta. Mas em breve ficou claro que a máquina não substituía o pincel nem dispensava a presença humana. Como sempre, era necessário o olhar. Era necessário um ponto de vista. O mistério da fotografia era que o determinante não estava apenas na paisagem ou no rosto, mas do outro lado do espelho, no que ficava invisível, na mão que posicionava a câmera.


A canção Brejo da Cruz, de Chico Buarque, fala de meninos que se alimentam de luz. Talvez um dos grandes méritos da exposição Imagens do Meu Mundo seja justamente provar que esses pequenos, embora expostos a situações de risco nas favelas brasileiras, têm algo a oferecer: eles podem, também, desenhar com luz. Afinal, desde sempre, a fotografia pressupõe luminosidade, escuridão e sensibilidade, coisa que – quem conferir a exposição poderá verificar – não falta a nenhum dos novos artistas.





Exposição Imagens do Meu Mundo
Resultados da oficina de fotografia com crianças do Projeto Acolher
Vila São Francisco B. Carlos Prates Belo Horizonte - MG Brasil

6 a 15/dez
2a a 6a-feira, de 10 às 21h, sáb. e dom., de 10 às 18h
Centro Cultural da UFMG (Hall Superior)Av. Santos Dumont, 174 - Centro

10 a 31/jan/08
3a a domingo, de 9 às 17h
Centro de Cultura Lagoa do Nado - (Espaço Multimeios Mestre Orlando)
R. Ministro Hermenegildo de Barros, 904 - Itapoã

Realização:
Projeto Acolher
Terceira Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte
Apoio:
CesFran (Centro de Educação São Francisco)
FlashColor
Centro Cultural da UFMG
Fundação Municipal de Cultura
Prefeitura de Belo Horizonte

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Não à transposição do Rio São Francisco - Depoimento Letícia Sabatella

Veja: www.umavidapelavida.com.br

Abaixo-assinado em apoio a D. Luiz Cappio e em defesa do Rio São Francisco

Exmo. Senhor Presidente da República – Luiz Inácio Lula da Silva

Exmo. Senhor Ministro da Integração Nacional – Geddel Vieira Filho

Desde 27 de novembro de 2007, Dom Luiz Cappio, bispo da Diocese de Barra (Bahia), retomou seu jejum e suas orações para tentar sensibilizar a sociedade brasileira e o Governo Federal sobre os graves problemas que a transposição do rio São Francisco pode levar ao rio, aos povos que vivem dele e ao Nordeste.

Em carta enviada ao presidente, Dom Luiz lembra que Lula não cumpriu o acordo assumido em outubro de 2005. Na ocasião, Dom Luiz suspendeu um jejum de onze dias, após o presidente ter se comprometido a suspender o processo da transposição e iniciar um amplo diálogo sobre o projeto com a sociedade.

A transposição do rio São Francisco não levará água para 12 milhões de nordestinos empobrecidos. Ao contrário, ela ajudará as empresas que realizam as obras e projetos com produção voltada para a exportação, enriquecendo ainda mais alguns ricos.

Para atender à população do semi-árido, há alternativas melhores e mais baratas, por exemplo: as 530 obras sugeridas pela Agência Nacional de Águas (ANA) e que abasteceriam os 1,3 mil municípios da região a um custo de R$ 3,6 bilhões (quase metade dos R$ 6,6 bilhões da transposição); e o projeto Um Milhão de Cisternas.

Por isso, as pessoas, entidades e organizações abaixo-assinadas pedem que sejam suspensas as obras da transposição, que vem sendo realizadas pelo Exército Brasileiro. Pedem que seja ouvido o grito dos povos do São Francisco presente no jejum de Dom Luiz Cappio.

Entrem e assinem aqui, ON LINE, esta petição!

http://www.petitiononline.com/dcappio/petition.html

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Apoio ao Bispo Luís Cappio se intensifica em todo o país

ADITAL - 05.12.07 - BRASIL

Em solidariedade ao Frei Luís Flávio Cappio, Bispo da Diocese de Barra (Bahia), quem há dez dias faz jejum em protesto à obra de transposição e em defesa da revitalização da Bacia do Rio São Francisco, o movimento Grito dos Excluídos promoverá, nesta quinta-feira (6), na Praça da Sé, na cidade de São Paulo, uma manifestação de apoio, durante a qual os participantes farão um jejum solidário simbólico das 6h às 18h, além de realizarem um ato público marcado para as 16h.

Também em solidariedade a Dom Luís Cappio, a Articulação no Sem-Árido Brasileiro (ASA Brasil), fórum que reúne mais de 750 instituições da sociedade civil do Semi-Árido, divulgou no último dia 3, uma carta, na qual manifesta sua solidariedade ao bispo. "Manifestamos nosso apoio a um processo de revitalização participativo e democrático da bacia do Rio São Francisco, que é parte de um projeto maior de desenvolvimento sustentável do Semi-Árido", diz a carta.

Para a ASA, a obra no Rio Francisco baseia-se em um modelo que prioriza o agronegócio em detrimento da agricultura familiar, apontando para ações de privatização e mercantilização da água. "O acesso à água é um direito humano básico que necessita ser urgentemente efetivado para toda a população, em especial para os agricultores e agricultoras familiares do Semi-Árido brasileiro", argumentam os movimentos.

Ontem (4), foi a vez da Via Campesina e do Fórum Nacional de Reforma Agrária e Justiça no Campo, além dos deputados Adão Pretto (PT/RS) e Iran Barbosa (PT/SE) manifestarem sua solidariedade ao protesto de Dom Luís Cappio através de duas cartas entregues ao Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), D. Dimas Barbosa. Na carta, a Via Campesina afirma que "a transposição não criará as condições de acesso à água para os camponeses mais necessitados do semi-árido, mas fornecerá água subsidiada pelo povo brasileiro para as grandes empresas do agronegócio do Nordeste".

Já o manifesto do Fórum exige do Governo Federal a imediata paralisação das obras de transposição e o início de um amplo diálogo com a sociedade civil na busca de concretizar alternativas para um outro Semi-Árido.

Em carta enviada ao presidente Luis Inácio Lula da Silva, Dom Cappio lembra ao presidente o não cumprimento do acordo assumido em 2005, no qual Lula propôs a não dar continuidade ao projeto sem esclarecer e ampliar o debate sobre o tema, mas pouco depois retomou as obras. O acordo ocorreu em virtude do primeiro jejum que o bispo se propôs em defesa do Rio São Francisco, no qual passou onze dias sem se alimentar.

Desta vez, entretanto, o religioso não está sozinho em seu protesto. Quatro mulheres ligadas à igreja "Filhas da Maria", na cidade de Sobradinho (BA), onde está o frei, estão jejuando com ele. Mais cinco pessoas em diferentes locais do Brasil, não ingeriram alimentos durante o final de semana.

Hoje (05) pela manhã, mais de mil pessoas fecharam a ponto do município Ibotirama (BA), BR 242, que serve de acesso para Brasília. A ação aconteceu em protesto contra o projeto de transposição de águas do rio São Francisco e em solidariedade ao jejum do frei.
Ontem, um ato público em Sobradinho, chegou a reunir mais de quatro mil pessoas numa caminhada que partiu da Capela de São Francisco em direção às margens do rio São Francisco.

Veja: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=30882


quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

E o II Fórum de Missão Integral foi assim...

"Embora neste fórum o número de pessoas tenha sido menor, percebi que a seriedade e a disposição dos participantes eram muito grandes!

Pessoas comprometidas e que já tinham lindos trabalhos na área ambiental. Foi gostoso ver um número significativo de pessoas que estão se dedicando e fazendo a diferença em um meio onde poucos se importam.


Como o grupo era menor (em torno de 70 pessoas), o encontro ficou com um tom mais íntimo, de família, de proximidade e amizade! Nos conhecemos melhor, nos aproximamos com maior facilidade, no fim do encontro a sensação era de camaradas (que compartilham o mesmo ar!) e de companheiros (que compartilham o mesmo pão!).


As palestras foram muito pertinentes, e com temas bem profundos. Nos chamando sempre a um compromisso ainda maior com o Reino de Deus. Tivemos também painéis, em que diferentes projetos expuseram seus trabalhos. Quanta riqueza e diversidade num país de dimensões continentais!


Resolvemos coisas importantes também. O próximo fórum, ano que vem, será em Natal, onde já existe um importante movimento do Jubileu da Terra nas igrejas. Pretendemos criar uma secretaria executiva também, que possa fomentar e agitar a rede Jubileu da Terra em todo país, dando suporte ao pessoal que queira iniciar esse movimento em sua cidade.


O fórum foi assim, muita gente animada, disposta e que já tem agido a favor da criação do nosso Deus. Gente de todo país, sul, norte, nordeste, centro-oeste e sudeste, que contribuíram de forma ímpar para o encontro ser "da cara do Brasil". Saímos de lá muito gratos por tudo que Deus tem feito e ainda vai fazer entre nós!"


Andrea Ramos

O uso do etanol combustível no Brasil

Ministério da Relações Exteriores

A experiência brasileira com a utilização do etanol combustível como aditivo à gasolina remonta à década de 1920. Porém, foi somente a partir de 1931 que o combustível produzido a partir da cana-de-açúcar passou a ser oficialmente adicionado à gasolina, então importada. Apesar dessas iniciativas iniciais, entretanto, foi apenas em 1975, com o lançamento do Programa Nacional do Álcool – PROÁLCOOL, que o Governo criou as condições necessárias para que o setor sucro-alcooleiro brasileiro se tornasse, três décadas mais tarde, um dos mais modernos do mundo, tendo alcançado significativos resultados tanto ambientais quanto econômicos. Nos últimos 30 anos, o uso do álcool, em substituição à gasolina, promoveu uma economia de mais de um bilhão de barris equivalentes de petróleo, o que corresponde a cerca de 22 meses da produção atual de petróleo no Brasil. Nos últimos oito anos, o uso do etanol propiciou economia na importação de petróleo que se elevou a US$ 61 bilhões, aproximadamente o total da dívida externa pública do Brasil.

O PROÁLCOOL tinha como objetivos principais a introdução no mercado da mistura gasolina–álcool (anidro) e o incentivo ao desenvolvimento de veículos movidos exclusivamente a álcool (hidratado). Em termos cronológicos, pode-se falar em quatro fases distintas de produção e uso do álcool combustível em larga escala no Brasil.

Na primeira, de 1975 a 1979, o Governo, confrontado com o primeiro choque nos preços do petróleo, de 1973, e com a queda de preços do açúcar no mercado internacional, decidiu tomar medidas de incentivo ao aumento da produção do etanol para utilização como aditivo da gasolina. Dessa forma, além de se evitar a ociosidade do parque industrial sucro-alcooleiro, pretendia-se diminuir a dependência nacional para com os combustíveis fósseis.

A segunda fase, que vai de 1979 a 1989, é considerada o apogeu do PROÁLCOOL. Nela, estabeleceu-se uma série de incentivos públicos fiscais e financeiros que envolveram desde os produtores de etanol até os consumidores finais. Seu início foi marcado pelo segundo choque do petróleo, em 1979, quando os preços da commodity internacional mais uma vez dispararam no mercado mundial. No entanto, em virtude da redução do preço do petróleo e do aumento da cotação do açúcar no mercado internacional nos dez anos seguintes, o final da década de 1980 foi marcado pela escassez de álcool hidratado nos postos de combustível brasileiros, o que abalou gravemente a confiança do consumidor e teve sérios impactos na venda de carros movidos a álcool no país.

A terceira fase, entre 1989 e 2000, foi marcada pelo desmonte do conjunto de incentivos econômicos do Governo ao Programa, no contexto da desregulamentação mais ampla por que passou o sistema de abastecimento de combustíveis no país. Em 1990, foi extinto o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), que regulou o mercado brasileiro sucro-alcooleiro durante quase seis décadas. Com isso, diante da redução dos preços do petróleo no mercado internacional, o governo gradativamente transferiu para a iniciativa privada as decisões relativas ao planejamento e à execução das atividades de produção e comercialização do setor. Além disso, com o fim dos subsídios, o uso do álcool hidratado como combustível enfrentou uma grande retração. De forma inversa, entretanto, a mistura de álcool anidro à gasolina foi impulsionada por decisão governamental que, em 1993, estabeleceu a mistura obrigatória de 22% de álcool anidro em toda a gasolina distribuída para revenda nos postos. Na prática, a diretiva governamental gerou uma expansão de mercado para o álcool anidro que vigora até o presente, com o percentual sendo fixado pelo Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool e podendo variar dentro da faixa de 20% a 25%.

Por fim, a quarta fase, que vai de 2000 até os dias atuais, iniciou-se com a revitalização do álcool combustível, sendo marcada pela liberalização dos preços dos produtos setoriais em 2002, pela introdução dos veículos flex-fuel em 2003 – que utilizam qualquer mistura de álcool hidratado e gasolina –, pelas possibilidades de aumento nas exportações de etanol e pelos elevados preços do petróleo no mercado mundial. Nessa fase, a dinâmica do setor sucro-alcooleiro passou a depender muito mais dos mecanismos de mercado, em especial do mercado externo, do que do impulso governamental. O setor realizou investimentos, expandiu a produção, modernizou-se tecnologicamente e, hoje, o etanol de cana-de-açúcar é produzido no Brasil de modo eficiente e a preços competitivos internacionalmente.

Nas últimas décadas, os ganhos de produtividade superaram 30%, reduzindo a necessidade de ampliar a área plantada. O cultivo da cana usa baixo nível de defensivos; tem o maior programa de controle biológico de pragas do país; tem o menor índice de erosão do solo; recicla todos os resíduos; não compromete a qualidade dos recursos hídricos e representa a maior área de produção orgânica do país.

Uma análise do crescimento experimentado pelo setor permite contestar o argumento de que a cultura da cana-de-açúcar voltada para a produção de etanol é danosa ao meio ambiente. Os biocombustíveis, ao contrário, têm tido impacto sócio¬ambiental positivo, ao recuperar áreas previamente desflorestadas, propiciar o rodízio e o arejamento de terras dirigidas à produção de alimentos, além de empregar quase um milhão de trabalhadores, inclusive por meio do sistema de cooperativas familiares. Por outro lado, o aumento significativo que se tem verificado na agricultura da cana-de-açúcar no Brasil – concentrada, basicamente, no estado de São Paulo, longe da região amazônica e ocupando apenas 0,6% do território nacional – decorre, sobretudo, de ganhos de produtividade e de pesquisas empreendidas pela EMBRAPA. A indústria sucro-alcooleira está entre os setores produtivos que mais empregam no Brasil. Cria cerca de um milhão de empregos diretos (inclusive em cooperativas e empresas familiares) e 6 milhões de indiretos. As condições de trabalho na cultura do açúcar são em média superiores às dos demais setores da economia brasileira. A renda familiar dos trabalhadores ultrapassa a de 50% das famílias brasileiras. O Governo brasileiro monitora o setor para assegurar a observância das normas trabalhistas. A ocorrência de trabalho forçado nas lavouras de cana é residual, e o Governo tem intensificado a fiscalização, coibindo abusos. Em 2006, a fiscalização, apenas no Estado de São Paulo, que responde por 80% da produção brasileira de etanol, atingiu 745.000 trabalhadores. Desse total, apenas 0,04% (289 trabalhadores) estavam em condições análogas à de trabalho forçado.

As usinas de álcool brasileiras, tradicionalmente identificadas com um panorama de atraso, são, hoje, um fator de desenvolvimento econômico-social no Brasil e estão no centro de uma mudança de paradigma energético que envolve todo o planeta.

Os biocombustíveis têm ingressado como tema prioritário de pesquisa e desenvolvimento nas pautas de cooperação com diversos países e regiões, entre eles Alemanha, China, Espanha, Estados Unidos, França, Japão, Reino Unido, Suécia, Suíça e União Européia. Organizações e foros internacionais como a UNIDO, a OEA, a Conferência Ibero-americana e o IBAS vêm também dando ênfase ao tema em seus respectivos programas de trabalho. A crescente demanda internacional por cooperação com o Brasil é resultado da vanguarda tecnológica que o País logrou desenvolver na matéria, a partir de esforço autóctone liderado pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT). Por outro lado, esse aumento na demanda requer critério na seleção de parcerias, de modo a assegurar que a cooperação contribua para o aprimoramento dos processos tecnológicos, em condições equilibradas e mediante regras adequadas para a repartição eqüitativa de benefícios resultantes das pesquisas. A contínua atualização tecnológica, por meio de pesquisa e desenvolvimento, é elemento essencial para que a ampliação no uso dos biocombustíveis venha acompanhada do aumento na eficiência energética e do uso racional dos recursos empregados no ciclo de produção.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Especialistas advertem contra desenvolvimento dos biocombustíveis

Yahoo! Brasil – Notícias, 04/12/07

PEQUIM (AFP) - Especialistas fizeram um apelo nesta terça-feira para que o mundo desacelere o desenvolvimento de biocombustíveis e aumente os investimentos em agricultura para evitar graves problemas de alimentação que ameaçam os mais pobres.
"O sistema mundial alimentar tem problemas. As questões em jogo são ainda mais graves porque ameaçam os mais pobres", declarou o diretor-geral do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI), Joachim von Braun, ao apresentar em Pequim um relatório elaborado por sua organização.
"Os preços dos alimentos aumentaram nos últimos meses como nunca em 30 anos, atingindo em cheio os mais desfavorecidos", destacou.
Segundo o relatório do IFPRI, a disparada do consumo mundial, as mudanças climáticas, os preços elevados da energia, a globalização e a urbanização "podem transformar o modo de produção dos alimentos, seus mercados e seu consumo".
O desenvolvimento dos biocombustíveis é um fator importante da alta desenfreada dos preços dos cereais, e afeta os países importadores natos como a China e quase todos os países da África.
Segundo as projeções do instituto com base nos planos atuais de desenvolvimento de bioenergia, o preço do milho poderia aumentar 26% até 2020, e o das oleaginosas, 18%.
No entanto, segundo projeções duas vezes mais ambiciosos, os preços do milho subiriam 72% e os das oleaginosas, 44%.
"Em 1973-1974, o mundo sofreu aumento forte de preços como estes por causa sobretudo de problemas de gestão agrícola na Rússia e na Europa do Leste, explicou Joaquim von Braun à imprensa.
"O mercado recuperou seu equilíbrio em dois anos, mas isso prejudicou a nutrição das populações pobres, principalmente das crianças, durante vários anos", afirmou.
Segundo o instituto, sem medidas eficazes, a crise deve perdurar: "o mundo está comendo mais do que está produzindo. Estamos reduzindo nossos estoques. Em breve, haverá um esgotamento".
As mudanças climáticas acentuarão ainda mais o problema, reduzindo "significativamente" a produção, sobretudo nos países em desenvolvimento como a África, onde "a agricultura é feita sem irrigação", segundo o relatório.
O IFPRI considera indispensável manter as fronteiras abertas: "Num mundo com escassez cada vez maior de alimentos, as trocas devem se intensificar e não diminuir".
"Devemos compartilhar a escassez", lançou Braun.
O relatório foi publicado por ocasião da Assembléia Anual do grupo de consultas para a pesquisa agrícola internacional (GCRAI), uma aliança de 64 governos, fundações privadas e organizações internacionais e regionais, que apóiam 15 centros, entre eles o IFPRI, e quer promover o desenvolvimento científico em agricultura para reduzir a pobreza.

Veja: www.ifpri.org